domingo, 22 de abril de 2007

O limbo como me contaram



Por José Nunes

Quando era pequeno me contavam histórias de um lugar frio, onde as crianças sem batismo eram jogadas, esse abismo, eles os mais velhos chamavam de limbo. Então deste mundo tão assustador, tirei meus monstros, minhas fantasias e os meus medos. O olhar que tinha sobre esse nada imitava a mesma vontade que tinha por ser um herói, mas a fantasia era tão curta, que eu não podia voar e nem mesmo sonhar, e sim apenas cair.


Neste lugar tinha um guardião, um corcel que mais parecia um flamingo, sua plumagem rodeava seu lindo corpo, mas por trás de sua alma havia uma espécie de manto tecido por fios de pele humana. O olhar dele era nocivo, suas patas queimavam o ar e seus dentes perfuravam o céu. A sentinela não era tão assustadora, mas sim o fato de estar sozinho naquele lugar vazio. Hoje, porém mais cético, percebo que fui manipulado a acreditar em algo que por muitas vezes me fez perguntar se era real.


Por uma questão religiosa o limbo era a pior solidão que uma alma encontraria, mas se pensarmos bem, as almas faziam parte deste lugar. O nada então não estaria vazio, os filhos dos hereges sofriam juntos, conheciam-se nas sombras, aprendiam desde pequenos a viver em uma área isolada. É certo dizer que mesmo vago que o pensamento fosse, um anagrama espiritual se expandiria e descobriria o amor, o sexo e até mesmo a guerra? O quanto grande seria esse mundo?


No mundo real as ações não são determinadas pela fantasia, o desejo é que molda e expande. A escuridão, dá vontade para o individuo construir barreiras de proteção. Mas o isolamento repentino dos bens sociais pode ser medido pelo número de quartos que você possui. As paredes estão vazias e não existe nenhuma alma, então porque pessoas constroem quartos se não existe gente para usar? O próprio fato de ser excluído de algo que você pertence, lê dá o juízo de que quanto maior for o número de salas e quartos, a estrutura funcional de uma sociedade se expandirá. Então porque os quartos não estão cheios?


Você torna seu espaço maior para não poder dividi-lo, mais constrói casas enormes, e divide seus cômodos vazios. Essa aspiração é limitada à fonte de sua ambição, o cunho da exposição é alocado na idéia de grande e melhor, pequeno pior. O limbo é o fruto da idéia de minúsculo, pois só pertencem aos filhos de hereges, e não atinge a dimensão do adulto, por parecer inocente. O céu e o inferno é uma noção maior, seus espaços são determinantes para o conforto da luz e da escuridão. O tijolo é posto no lugar certo, mas você sabe se você está no lugar certo. O limbo era uma imagem triste da solidão, é, portanto o reflexo de sua casa.

2 comentários:

Aline disse...

Pronto, tá nos meus favoritos! :P

Alescio Vieira disse...

Daria uma boa narrativa para quadrinhos.